
Dança do Ventre
um pouco de sua história e significado
A linguagem do corpo - anterior a palavra oral e escrita – era a principal via de comunicação para as primeiras civilizações. Mulheres e homens expressavam sentimentos em rituais, nascimentos, casamentos, funerais, colheitas... Dançavam o prazer da vida, a natureza cíclica e os mistérios.
Os belos e poderosos movimentos do ventre e dos quadris eram praticados em diferentes partes do mundo. Estatuetas feitas de ossos de animais ou terracota, papiros e inscrições de mais de 8000 a.C contam essa história. As danças associadas ao sagrado feminino, à fertilidade, ao poder de criar e à gestação foram atravessando os séculos, por isso tem o dom da eternidade. O ventre sempre dançou para celebrar a vida, seja no Egito, Índia, Grécia, África, América, mas cerimônias dedicadas à Deusa Ísis no Antigo Egito seriam a origem mais provável.
Muitas épocas, muitas transformações, por isso a dança do ventre de hoje não é mesma que existiu há séculos atrás. O estilo Raqs Sharqui, que significa Dança do Leste e que a meu ver é a Dança do Ventre que conhecemos atualmente, surgiu aproximadamente em 1930. Num momento muito específico no Oriente que estava em plena expansão e por isso recebia investidores curiosos e artistas vindos de diversas partes da Europa e Estados Unidos. Nesse momento também foram para lá muitos artistas russos fugidos dos radicalismos políticos em seu país de origem. Estabeleceram-se principalmente no Egito e foram desenvolvendo sua arte que agora mesclava o refinamento estético do ballet clássico com as danças tradicionais e folclóricas do local. Nascia então um novo estilo bem mais espetacular de dança, música, teatro e cinema que revolucionou o cenário das artes orientais, até então, desenvolvidas longe dos palcos.
A dança do ventre de hoje tem raízes muito antigas, mas me arrisco a dizer que é fruto do casamento com a cultura ocidental, bem mais contemporânea. Hoje muitas mulheres e me incluo entre elas, procuram resgatar significados ancestrais e sagrados das danças nas tribos, ruas e templos. Assim vou buscando unir o melhor de todos os tempos para honrar essa fila gigantesca de mulheres que encontram na dança espaço para soltar seu riso e curar seu pranto. Mulheres que teceram com seus corpos uma arte de beleza, simplicidade, prazer e alegria num mundo onde até os dias atuais não é fácil ser mulher e bailarina. Desejo que a sabedoria e irmandade de todas, possam inspirar nossos passos no palco e na vida.
Finalizo essas breves palavras com um convite para que você se junte à essa linhagem gigantesca de mulheres que fazem da dança um caminho de beleza e de resistência pacífica para celebrar e manter a sabedoria ancestral feminina.
Deixe seu ventre dançar, dançar, dançar... Isso faz sua vida mais plena e faz do mundo, um lugar melhor! Pode acreditar.
Com amor, Yasmin Meera.


DANÇA: presente para a vida!
Você todo, aqui e agora e com o foco nas suas possibilidades: dança. Nessa perspectiva, o movimento se torna natural. E a presença se traduz pelos gestos cheios de sentimento, pensamento, energia...
Mas você com o coração aflito, a cabeça no passado ou no futuro, a energia dividida... consegue no máximo repetir passos sem sentido ou significado. Para que a dança seja vivenciada como um recurso na vida, é preciso que você convide todas as suas partes para estarem unidas nos gestos. E também, que você se esvazie de expectativas e abra espaço para sentir.
Em minhas aulas, sempre proponho exercícios que vão além da técnica do movimento. Exercícios capazes de despertar reflexões e sensações para aplicá-las no dia-a-dia. Assim é possível ir desfrutando desse benefício a mais da dança, onde sua consciência sobre si mesma e suas atitudes, vão se ampliando tanto, a ponto de você realmente começar a dançar a vida.
Essa mágica pode começar com o convite para sentir, aceitar e integrar todos os seus aspectos durante a dança. Mas depois não há como saber o quão alta será sua escada que te leva ao espaço da dança. Pois ela te levará para espaços onde a razão não alcança, espaços de êxtase, espaços divinos.
Dançar nos coloca em contato com o que é profundo e essencial e ao mesmo tempo, possibilita colocar em prática essa sabedoria.
A dança abre muitas portas de conexão com você mesmo e com o universo em relação. Frequentemente escuto frases como esta: “dançando eu me esqueço do mundo e fico aqui feliz comigo mesma”.
E sabendo que pessoas plenas e felizes fazem do mundo um lugar melhor, me arrisco a dizer que dançar faz bem pra tudo, inclusive para o planeta! Dançar é um presente para a vida!
Yasmin Meera.
Porque o ventre gosta de dançar?
É uma delícia dançar, os benefícios são muitos e ao contrário do que dizem:a dança do ventre absolutamente não dá barriga. Ela tonifica e fortalece a musculatura abdominal. O ventre gosta de dançar porque os movimentos massageiam o corpo, liberam as tensões, despertam os sentidos... Além de saudáveis, nos sentimos mais plenas e bonitas, pois o tônus da dança valoriza as formas femininas.
No ventre se concentra grande parte das funções vitais. Além de aumentar a circulação sanguínea nos ovários e contribuir para uma produção hormonal mais equilibrada, traz benefícios para a fertilidade, a gestação, o parto, o pós-parto, a menstruação e a menopausa.
Dançar é uma das mais prazerosas maneiras de se expressar, de entrar em contato com a criatividade, a sensualidade e a energia vital que cada um tem dentro de si. Por meio dessa prática, é possível acessar o poder primordial do nosso vaso alquímico. É precisamente nesse ponto do corpo onde a vida se cria, se transforma, amadurece e vem ao mundo, por isso é uma prática poderosa e curativa.
Poderia escrever páginas e páginas sobre os tantos benefícios e prazeres que dançar o ventre proporciona às mulheres. Outro dia, após encerrar a uma aula, uma aluna começou a agradecer os momentos especiais que estava vivenciando com a turma. Ela agradeceu a oportunidade de celebrar a própria feminilidade, algo que deveria ser natural, mas que vinha sendo uma dificuldade por inúmeros motivos em sua vida. Em seguida, outra aluna, e outra, e outra... começaram a relatar seus ganhos pessoais. Enfim, cada pessoa é um universo particular, em relação, conectado com outros universos ao redor. Por isso, só você pode descobrir quais as portas, sonhos e janelas que a dança te ajudará a abrir. Ou melhor, mais que abrir, elas se escancaram, rsrsrs! Praticar essa arte é deixar fluir as emoções, conquistar maior equilíbrio, ganhar consciência do próprio corpo e principalmente, sentir prazer e gratidão de viver e de ser quem você é.
Por isso o ventre gosta de dançar e celebra em todas as idades a beleza da vida!
Yasmin Meera.

Dança e Necessidades Especiais de todos nós

No Brasil, muitas coisas só começam depois do carnaval. E como em todo recomeço, se renovam as esperanças para crescer e fazer melhor que no ano anterior. Inicio essa conversa em forma convite:
- Agora em 2015, vamos nos engajar em ações mais inclusivas que realmente reconhecem o valor de todo ser humano com mais ou menos necessidades especiais?
Sou professora e dançarina, conduzir mulheres pelos caminhos da dança sempre me traz uma centena de experiências maravilhosas. Não tem preço acompanhar pessoas se descobrindo através da arte. Mas dentre tantas experiências a que sou grata, uma delas foi muito especial no ano que passou: coordenar o estágio na Apae Florianópolis das alunas Jaqueline Andretti Silva, Luani Silva, Monique Latrônico e Clara Kubelka, em seu curso de Formação Profissional no Método de Dança Oriental que desenvolvi.
Tenho que dar parabéns para o trabalho sensível, profundo e repleto de qualidade educacional e artística que os profissionais da Apae Florianópolis vem desenvolvendo e em especial, a professora Ana Ciscato com o Grupo de Dança da Apae. As estudantes da Apae experimentaram momentos lúdicos, prazerosos e possibilidades corporais a partir da dança do ventre. Podemos perceber o quão significativo foi o seu contato com a Dança Oriental a partir do Método Yasmin Meera. No último dia do estágio, uma das alunas nos deu esse depoimento:
“Essa aula mudou a minha vida. Agora eu quero me cuidar mais, cuidar da minha saúde, emagrecer, ficar mais bonita, ser eu mesma... Essa dança foi a coisa mais linda que eu já vi.”
Nessas palavras aparece a autoestima fortalecida e também, encontro com sua essência luminosa e bela. E se as estudantes da Apae aprenderam, eu e as estagiárias aprendemos muito mais. Um dos princípios do Método Yasmin Meera é trabalhar a dança como metáfora da vida, ou seja, vivenciá-la ao invés de apenas executá-la mecanicamente. Por isso o foco do Método está em valorizar as possibilidades e não as dificuldades. Nesse sentido nos identificamos demais com a abordagem da Apae. A maior parte das mulheres que procuram o Método Yasmin Meera para dançar o ventre, buscam conexão com o corpo e liberação das amarras que as impedem de se expressar com consciência, naturalidade e beleza. Todas têm intelectos privilegiados e paradoxalmente, é precisamente esse intelecto com excesso de autocrítica que as desafiam ou atrapalham. Seus maiores limites estão nos discursos de suas mentes. Por outro lado, os alunos da Apae tem mais dificuldades intelectuais ou limitações físicas, mas entregam-se com facilidade para as sabedorias do corpo e expressões fortes de seus corações. Por isso temos muito que aprender com todos aqueles que têm necessidades especiais. Em última instância, acredito que esse nome se aplicaria muito bem para todos nós porque há diferenças sim, mas todas as pessoas com mais ou menos dificuldades, tem necessidades especiais. As diferenças as temos visto muito bem. Mas é preciso ver melhor e valorizar mais as semelhanças porque estas sim são muito maiores e tem mais importância. É preciso valorizar muito mais o que nos une e não o que nos separa. É preciso aprender com o “diferente”. Vejo que a sociedade necessita muito mais daqueles que tem necessidades especiais declaradas, porque com ou sem dificuldades cognitivas, físicas ou psicológicas, todos precisamos fortalecer o Estado de Presença que abre a visão de Ser e Viver. De modo que cada um ganhe o brilho próprio e respeito por ser quem é. Desejo que em 2015, a sociedade que somos nós, reconheça as próprias necessidades especiais e uma delas é garantir a Inclusão porque todos precisamos da medicina uns dos outros. Me despeço com duas perguntas:
É melhor negar ou reconhecer nossas dificuldades? E mais que isso: Ao invés de sofrer com elas, será que é possível dança-las?
Nós descobrimos que sim, basta querer e aprender a ver melhor o que temos e não o que falta.
Abraço fraterno,
Yasmin Meera
Educadora, Bailarina, Coordenadora de Estágio e Amante de todas as condições possíveis de manifestar humanidade.